sexta-feira, 25 de março de 2011



Gustavo Gusso | Médico
Presidente da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade

O debate on line sobre casos complexos da saúde da família é um dos instrumentos da formação em ação dos trabalhadores. O presidente da Sociedade Brasileira de Medicina e Comunidade é um dos autores do projeto. Em entrevista a Assessoria de Comunicação, ele afirma que o objetivo é trabalhar com uma nova cultura integradora representante do trabalho diário.

Como surgiu a ideia do sistema casos complexos? Qual o objetivo?
Gustavo Gusso | Sempre houve a demanda por cursos de especialização em serviço. Mesmo antes da Unasus, o Ministerio ja financiava. Iniciou nos Pólos de Capacitação do Saúde da Família. Nós que estávamos nas equipes não nos identificávamos tanto com os conteúdos apresentados.

A ideia então está relacionada também com uma nova cultura?
GG | A maioria consistia em um módulo sobre políticas de saúde e legislação, outros focados em doenças ou em conteúdos verticais, como saúde da mulher, saúde da criança, saúde mental etc... Ou seja, reproduzia de certa maneira, justamente a prática que queríamos mudar.

Que mudança significativa está sendo proposta?
GG | Pensamos em um conteúdo integrador e que represente a realidade e o trabalho diário. Montamos uma matriz com vários problemas de saúde freqüentes em um eixo (hipertensão, diabetes, otite, prevenção de colo uterino etc...) e temas transversais em outro (violência doméstica, promoção a saude, trabalho em equipe, abordagem familiar etc..).

Como foram feitos os primeiros casos?
GG | Escrevi um caso complexo para servir de inspiração. Organizamos junto com a Juliane Correa, especialista em Educação à Distância da UFMG, uma oficina em Belo Horizonte com 40 profissionais experientes. Ao final, formamos duplas e  pegamos problemas de saúde e temas transversais para construir as histórias.

Os casos estão em nosso sítio on line e onde mais os encontramos?
GG | Estão disponíveis em www.casoscomplexos.com.br e podem ser usados livremente, temos os termos de cessão de todos os autores. Cursos de especialização e mesmo cursos de graduação usam. Os cursos da Unasus organizados pela UERJ, Unifesp e Fundação Santa Casa de Porto Alegre têm tido experiências positivas.

O modelo pode ser reaplicado?
GG | Sim.  Nossa ideia era criar um área interativa com os “ingredientes” para que fossem criados e postados mais casos  complexos (feitos por qualquer profissional), mas ainda não avançamos nesta etapa por falta de pernas. Enfim, esta é uma demanda que pode ser feita em nível local ou regional.

Outras instituições também podem utilizar o sistema?
GG | Claro, achamos que devem. Todo processo teve financiamento público (do DAB) e os autores assinaram termos de cessão dos direitos de uso. Então o uso é livre.

O que você acha da Fundação utilizar esse software para atividades de educação com os trabalhadores?
GG | Acho fenomenal. Era tudo que sonhamos. Sempre apoiei a ideia e a concepção da Fundação mesmo antes dela ter nascido. Acho que a Bahia tem chamado a responsabilidade da organização da Atenção Basica e da Rede para si.

No caso da FESF-SUS os trabalhadores também serão motivados a enviarem seus próprios casos complexos. Como você percebe essa iniciativa?
GG | Claro, como disse acima, esta é justamente a etapa não cumprida. Depóis seria interessante coletar os direitos de uso para que fiquem livres e todos possam usar e acessar. A idéia não era fazer um conjunto de casos e parar.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Entrevista com Rafaela Freire



O resultado da pesquisa feita pelo IPEA é uma excelente notícia para todos os gestores e trabalhadores que se dedicam cotidianamente à construção e efetivação de um sistema de saúde público, gratuito e de qualidade para todos. O atendimento pela Equipe de Saúde da Família (EqSF) é o serviço mais bem avaliado, com percentual de bom e muito bom de 80,7% no conjunto do Brasil.  
Mas é preciso ter cautela, pois este dado, quando visto de forma isolada, apresenta uma série de outros aspectos que podem fornecer valiosas pistas para melhorar o atendimento no SUS, inclusive na Atenção Primária, que não se resume ao atendimento domiciliar pelas Equipes de Saúde da Família. 
Por isso é importante entender melhor a pesquisa: ela foi realizada em novembro do ano passado, através de entrevistas domiciliares em uma amostra de domicílios por regiões do Brasil. 
Outro Olhar | Seu objetivo foi avaliar a percepção da população sobre serviços de saúde principalmente os prestados pelo SUS, mas também foram avaliados os serviços oferecidos por planos e seguros de saúde. 
A proposta é olhar para o resultado obtido pela EqSF dentro do contexto do conjunto de serviços do SUS avaliados pela pesquisa e que foram divididos em Saúde da Família, Centros e Postos de Saúde, médicos especialistas, urgência e emergência e distribuição de medicamentos. 
Uma das surpresas que a pesquisa trouxe, além do nível de aprovação alcançado pela Saúde da Família, é que nenhum serviço teve rejeição maior do que a aprovação. Outra é que parece existir um imaginário pior sobre o SUS dentre as pessoas que não são usuárias. 
Seria simplesmente preconceito ou haveria um histórico de experiências anteriores ruins? A pesquisa não permite responder a estas perguntas, apenas aponta que a opinião de quem utiliza os serviços do SUS é diferente da opinião daqueles que não usam. 
Avaliação | No caso da avaliação da EqSF vale chamar a atenção para o fato de que enfocou apenas os atendimentos feitos por algum membro da equipe no domicílio, ou seja, a visita domiciliar foi o serviço do SUS mais bem avaliado pela população, sendo que cerca de 32% dos entrevistados receberam este tipo de atendimento. 
Portanto, para consolidar a Estratégia de Saúde da Família, visando a totalidade da população, precisamos refletir sobre quais as características do atendimento domiciliar poderiam e deveriam ser estendidas às unidades de saúde para que toda a Atenção Primária à Saúde recebesse pelo menos parte do reconhecimento que a população dedica às visitas domiciliares. 
Seria o vínculo entre a equipe e a família? Seria a humanização das relações dentro do contexto domiciliar? 
FESF-SUS | A Fundação Estatal Saúde da Família, oferecendo serviços em gestão compartilhada com os municípios e com profissionais concursados, propõe mudanças na forma de organizar o atendimento a partir das unidades de saúde contribuindo para o fortalecimento de uma rede de serviços que deve estar acessível à população, ser resolutiva e capaz de acolher às pessoas fazendo-as se sentirem em casa. 
Acredito que a combinação de investimentos em melhoria de infraestrutura, com investimentos nas equipes de Saúde da Família, tem grande potencial de trazer para a Atenção Primária nos próximos anos o reconhecimento que as EqSF já conquistaram. Este é o desafio que estamos enfrentando.